Demanda em alta e oferta restrita impulsionam segmento

Antes vendidas com margens pequenas, máquinas seminovas e usadas já são comercializadas pelo valor nominal da compra, mudando a dinâmica do mercado

fonte Revista M&T

Segue aquecida a demanda no mercado de equipamentos seminovos e usados, bastante acentuada com a escassez de equipamentos novos iniciada pouco tempo após o surgimento da pandemia. Escassez que, em contrapartida, também gerou obstáculos para o pleno aproveitamento desse potencial de negócios.

Um deles é o fato de que os modelos seminovos e usados também se tornaram escassos, pois seus proprietários, diante das dificuldades de receber equipamentos novos, hesitaram em vendê-los ou pediram valores muito elevados. Como não poderia deixar de ocorrer, assim como aconteceu no segmento dos novos, a conjuntura de demanda em alta e oferta restrita resultaram em acentuada elevação também dos preços de seminovos e usados.

Embora ainda possam baixar, os preços de seminovos e usados não voltarão aos patamares anteriores, crê Cleber Carvalho, CEO da Tracbel. “Antes eram antes vendidos com margens muito pequenas”, justifica, destacando que os preços de seminovos e usados elevaram-se acentuadamente nos últimos dois anos. “Hoje, um cliente que comprou uma pá carregadeira há quatro ou cinco anos conseguiria revendê-la pelo valor nominal da compra”, informa. “Isso não acontecia antes, pois o preço do equipamento usado era muito inferior ao de um novo e mesmo máquinas antes desprezadas passaram a ter um bom valor.”


Além de oferecer frota própria de seminovos, a Tracbel também auxilia vendas de clientes

A Tracbel, ressalta Carvalho, sempre trabalhou a comercialização de seminovos como uma ferramenta de alavancagem de vendas de máquinas novas. Agora, todavia, a empresa vem investindo para expandir a presença nesse segmento, com iniciativas como a recente reformulação de seu site, que – além de oferecer frota própria de seminovos – também intermedeia as vendas de equipamentos de clientes (inclusive de marcas que não representa).

“É um jeito de ajudarmos nossos clientes, que muitas vezes não sabem, nem querem, fazer essas vendas”, comenta. “E, simultaneamente, apoiar a venda de máquinas novas.”

Se clientes mais tradicionais ainda preferem o contato direto antes de decidir pela aquisição de um seminovo, as gerações mais novas já lidam melhor com as transações on-line, observa Antonio Pedro, gerente de produto de seminovas da Sotreq, distribuidora da Caterpillar que também mantém um site no qual comercializa tanto equipamentos próprios quanto equipamentos de clientes (nesse caso, de qualquer marca e sem a necessidade de exposição que não seja virtual, embora as lojas da rede possam ser utilizadas na logística de entrega ou para consignação).

Este ano, prevê Pedro, as vendas de seminovos e usados da Sotreq atingirão montante 30% superior ao registrado em 2021. Mas esse índice poderia ser até maior: “Ainda temos uma restrição representada pela escassez de equipamentos seminovos de estoque, cuja disponibilidade nem sempre acompanha a demanda”, ressalta.

Como diferencial relevante na montagem de estoque, o especialista cita a presença também no mercado de rental. A frota da Sotreq, diz ele, é renovada anualmente em uma média de 30%, sendo que os equipamentos retirados da oferta são comercializados como seminovos.

Devido à falta de equipamentos novos, o percentual de renovação da frota de rental até diminuiu nos últimos dois anos, ele informa, mas já em 2023 deve subir para 40% dos equipamentos destinados à comercialização. “Equipamentos de locação são muito valorizados, pois os clientes sabem que permaneceram o tempo todo sob nossa supervisão direta”, pondera.

RESULTADOS

Considerando-se os últimos dois anos, as vendas de equipamentos seminovos e usados no Brasil devem ter dobrado, estima Luís Garcia, head do marketplace PesadosOnline, lançado no início do ano passado.


Segundo o PesadosOnline, mercado de seminovos e usados também foi impactado pela alta nos preços

O executivo avalia como “bom” o desempenho nos dois anos iniciais de operação, quando – apesar de favorecido pela falta de equipamentos novos – o mercado de seminovos e usados também foi impactado pela alta nos preços. Alta essa, inclusive, bastante acentuada. “O preço de uma escavadeira de 18 t modelo 2017 chegou quase a encostar no de um equipamento novo”, exemplifica Garcia. “Agora, esses preços começaram a baixar e podem cair ainda mais, pois os grandes fabricantes já têm disponibilidade de novos.”

Apesar de o nome indicar uma operação exclusivamente virtual, o PesadosOnline também conta com uma vertente de atendimento presencial, prestado por uma equipe de representantes distribuídos por várias regiões do país, que atuam tanto na captação de máquinas, quanto na venda de equipamentos anunciados na plataforma. “Observamos o agronegócio com bastante força nesse mercado, seguido por pequenos locadores e prestadores de serviço”, ressalta Garcia.

Por sua vez, a plataforma on-line SYX registrou um aumento de 35% na procura por máquinas usadas nos últimos 12 meses, relativamente a igual período anterior, com 28% de avanço nas vendas. “O mercado de seminovas está bem aquecido, fatores como a pandemia e o conflito na Ucrânia alongaram muito os prazos de entrega de máquinas, caminhões e implementos novos”, ressalta Robson Moura, diretor comercial da empresa, que também comercializa resíduos e ativos empresariais inservíveis.